segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Copa do Brasil: Independente faz questão de enfrentar o São Paulo em Tucuruí



Atual campeão paraense, o Independente, do município de Tucuruí, faz questão de enfrentar o São Paulo em casa, no modesto Estádio Navegantão, na rodada de abertura da Copa do Brasil de 2012. Nesta sexta-feira (16), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou para Belém o primeiro confronto, em 3 de março.

Há seis dias, a população paraense foi consultada em plebiscito sobre a divisão do Estado em três. O Independente está sediado exatamente num dos territórios que tentavam se separar da capital.

- Estamos muito chateados, muito tristes com a CBF. Vou fazer um ofício, repudiando essa atitude dela. Por que não consulta a gente? Ficamos 400 km distante, numa região que ia pertencer a Carajás (em caso de vitória no plebiscito) - revoltou-se o presidente do clube, Deley Santos, em conversa com Terra Magazine.

A CBF permanece em férias coletivas até janeiro, entretanto o cartola promete recorrer a um político próximo a Ricardo Teixeira, que preside a entidade máxima do futebol nacional. "Estou pedindo uma audiência com o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) para ir junto com ele à CBF e mostrar que isso não é justo", contou. "Nossa casa é aqui em Tucuruí. Por que vamos jogar em Belém? Não tem motivo".

Ele não acredita que haveria mais espectadores na capital, apesar de o Estádio Mangueirão comportar 45 mil pessoas. "É o contrário. Nossa arrecadação vai ser maior em Tucuruí porque aqui os 8 mil lugares pode ter certeza que vão estar entupidos. O prefeito já começou a mexer no campo para, até o fim de fevereiro, ter 10 mil pessoas. O Mangueirão não estará (lotado). Quem for lá, é por causa do São Paulo, não do Independente", avaliou.

O regulamento da Copa do Brasil não exige capacidade mínima de público para os estádios antes das semifinais. Na expectativa da sua primeira participação na competição, o Independente jogou no Navegantão durante toda a Série D de 2011, quando estreou em torneios nacionais. Acabou eliminado nas quartas de final pelo mato-grossense Cuiabá.

- Nosso estádio está credenciado pela própria CBF. Foi feita vistoria nele todo. Aqui, a gente não perde. Perdemos acho que uma partida. Fomos campeões paraenses aqui - afirmou Deley dos Santos.

Na verdade, o Independente foi fundado em Belém, em 1972. Transferiu-se para Tucuruí em 2009, depois de passar às mãos de vários empresários cotistas por R$ 90 mil, negociados pela família Bastos, que herdou o clube. A nova cidade, de 97 mil habitantes, é chamada de Terra da Energia devido à quarta maior hidrelétrica do planeta. Por isso, a equipe recebeu o apelido de Galo Elétrico.

- A gente acha estranho. Não temos nada a ver com Belém. Não sei por que a CBF marca jogo pra lá. Vai ficar ruim pra gente. É como se estivéssemos no campo do adversário, como se estivéssemos em São Paulo. Daí, nosso protesto. Aqui, o pessoal nos apoia, temos ajuda da prefeitura local. É um jogo que vai dar visibilidade ao município.


O presidente Deley Santos também reclama de jogar contra um rival tão forte na fase inicial da Copa do Brasil. "Ninguém entende o critério da CBF. O Independente foi campeão paraense, o certo era ser cabeça de chave, era pegar um adversário de menor porte, de Macapá, de Roraima, de Rondônia. Como eles marcaram com o São Paulo, não querem vir a Tucuruí. Por exemplo, o presidente Lula veio, a presidente Dilma veio, temos hotéis bons aqui. Não sei por que esse preconceito com a gente", queixou-se.

A tradicional dupla de Belém é usada como parâmetro. O Remo encara o roraimense Real. "Que subiu agora, o estádio pega 2 mil pessoas (em Boa Vista). O Paysandu vai enfrentar o Espigão (de Rondônia), (cuja) média de público é de 50 pessoas", analisou Santos.

Custa menos que Ceni

Por mês, o futebol do Independente gasta menos do que metade do salário dos são-paulinos Rogério Ceni e Luis Fabiano, por exemplo. "A folha deve ficar em torno de R$ 120 mil, incluindo tudo, comissão técnica, pessoal de apoio, roupeiro, massagista, lavadeira", calculou Deley Santos.

A bilheteria em Tucuruí, pela Copa do Brasil, era esperada como um reforço financeiro para o início da temporada. "Nossa ideia era colocar ingresso a R$ 40 e meia (entrada) a R$ 20 no Navegantão, arrecadar uns R$ 350 mil. Daria para manter o Campeonato (Paraense) tranquilo. Na Série D, estava a R$ 15, e R$ 7,50 a meia", informou o presidente.

Além da questão esportiva, o resultado do jogo vale bastante para os cofres do Galo Elétrico. Se o São Paulo vencer por, pelo menos, dois gols de diferença, abocanha 60% da renda e elimina o duelo de volta na capital paulista. Caso contrário, o vencedor fatura 60%; se houver empate, o dinheiro será repartido igualmente.

A CBF paga transporte, alimentação em viagens, hospedagem e premiação por cada fase da competição de confrontos eliminatórios simples. "De patrocínio fechado, até agora, temos R$ 85 mil. São R$ 50 mil da Prefeitura", contabilizou Santos, que agendou mais reuniões com potenciais parceiros. "Devo conseguir uns R$ 100 mil de patrocínio".

Ele acredita que pode derrotar a equipe do técnico Emerson Leão em Tucuruí. "Acho que sim. Aqui dentro de casa, né?", confia o cartola. "Estamos reformulando o time, está praticamente montado. Só perdemos três jogadores. Já estamos treinando para o (Campeonato) Paraense, que começa em 14 de janeiro", disse.

O treinador Fran Costa, ex-Trem, do Amapá, substitui Charles Guerreiro, que ganhou fama como volante de Flamengo e Vasco. Campeão mundial sub-20 de 1993 como revelação vascaína, o meia Gian continua. Xarás de craques, também seguem o goleiro Dida e o meio-campista Cafu. Ainda há nomes exóticos como Guará, Curimatá, Marraquete e Mouza.

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